Bolsa de Iniciativas PRR

 

FROM SOIL TO SOIL - “Devolver ao solo aquilo que ele nos dá…” (ID: 395 )
Coordenador: UCP - Universidade Católica Portuguesa
Iniciativa emblemática: 5. Agricultura circular
Data de Aprovação: 2022-10-06 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Norte NUTS III: Área Metropolitana do Porto
 
Identificação do problema ou oportunidade

A produção de alimentos é um dos maiores desafios do mundo moderno, pelo que é altamente improvável imaginarmos a mesma sem impacto relevante no ambiente. Esse cenário torna-se ainda mais improvável quando cerca de um terço  dos alimentos são desperdiçados apesar da sua produção constituir um dos principais emissores de gases com efeito de estufa.
De facto, em Portugal e na Europa, os níveis de consumo têm vindo a aumentar nos últimos anos, uma tendência solidificada com a pandemia. Como consequência, a geração de perdas e resíduos na cadeia alimentar tem vindo a crescer. Em Portugal, a deposição de resíduos em aterro aumentou cerca de 25% entre 2016 e 2020, representando 41% do destino dos resíduos produzidos no país. A deposição de Resíduos Urbanos Biodegradáveis em aterro também tem vindo a aumentar, totalizando em 2020 1,2 milhões de toneladas, um aumento de 29% face 2016 .
Por entre os diferentes impactos ambientais desta deposição, a degradação dos solos é um dos mais prementes. Um estudo internacional revela que em Portugal, a maioria do território encontra-se com taxas de perda de solos para terras aráveis superior a 2 t/ha/ano. Esta degradação dos solos é mais acentuada no norte do país onde as perdas de são superiores a 10 t/ha/ano .
Posto isto, a circularidade dos recursos, assume uma relevância chave na mitigação dos impactos aportados, na medida em que reduz a pressão da atividade agrícola na utilização dos recursos naturais, interrompendo a correlação entre consumo e geração de resíduos. Neste campo, e considerando a União Europeia a 27, Portugal é o terceiro país com menor percentagem de utilização de materiais circulares no cabaz de materiais utilizados - o Relatório Circularity Gap conclui que somente 8,1% do que usamos é circular e que entre 2018 e 2020 este Gap agravou-se. 
Ao nível da produção agrícola, na União Europeia, cerca de 20% dos alimentos produzidos são desperdiçados anualmente, representando 179 kg per capita.
Em Portugal, cerca de 17% das partes comestíveis dos géneros alimentícios produzidos para consumo humano são perdidos, ao longo da cadeia antes de chegar ao consumidor, o que representa 1M/t/ano. Estes números são essenciais para a valorização dos subprodutos pois, num conceito de economia circular, os subprodutos hortofrutícolas podem ser uma mais-valia.
Em resumo, a atual abordagem do sistema agrícola e alimentar trata-se de um processo que remove nutrientes importantes do solo, passa-os através de uma cadeia de valor e, em muitos casos, descarta-os de uma forma que pode levar a um solo improdutivo e a impactos ambientais negativos.
Por esse motivo, urge a necessidade de criação de um projeto que vise devolver ao solo aquilo que ele nos dá, numa abordagem circular e holística em todo o sistema alimentar (desde os produtores aos consumidores), que vise a eliminação do desperdício alimentar, focado no setor com maior impacto - hortofrutícolas, pela sua diversidade, lacunas de mapeamento, dispersão territorial, vulnerabilidade aos fatores climáticos e ambientais, sazonalidade, limitada I&D nas alternativas de valorização e desconhecimento e falta de capacitação dos diferentes atores da cadeia, com impacto económico/ ambiental de elevado potencial para todos os envolvidos.
 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

Face ao exposto, urge a necessidade de investigar, analisar, e sobretudo inovar na forma como tratamos os resíduos alimentares. Tal apenas será possível através de uma abordagem holística que agregue indivíduos e entidades nos diferentes estágios de geração de resíduos: produção, distribuição, consumo, valorização e/ ou tratamento, a academia e associações relevantes.
Essa abordagem irá culminar na definição de boas práticas para cada estágio da cadeia de valor que contemple a correta identificação, classificação e mapeamento em termos de tipologia, qualidade física e sensorial, qualidade microbiologia dos subprodutos gerados. Mediante a identificação e mapeamento dos subprodutos é definida a cadeia de valorização e aplicação dos mesmos. 
Como tal, este projeto pretende abordar o problema/ oportunidade descrito no tópico anterior em três óticas complementares: 
Numa primeira abordagem, a eliminação do desperdício alimentar pode ter um papel fulcral. Através de uma estratégia upcycling de valorização/ transformação de perdas/ resíduos, será possível viabilizar um sistema alimentar que com produção de alimentos mínimo/ zero desperdício 
Uma segunda linha de ação passa pela produção alimentar regenerativa: cultivar, processar alimentos e gerir resíduos de forma a gerar resultados positivos para a natureza, tais como solos saudáveis e estáveis, culturas com maior performance que se possam assemelhar a ecossistemas naturais 
Uma terceira via de recolha e triagem do excedente alimentar tendo o retalho como ponto central, desde o produtor ao retalhista e ao consumidor
Para isso esta parceria conta com produtores de hortofrutícolas, retalhistas e transformadores, com o objetivo de: i) numa fase inicial captar os resíduos gerados entre os solos e os consumidores; ii) mapeá-los quanto às suas características e potencialidades comerciais; iii) transformá-los de acordo com os sub-produtos a desenvolver; iv) reintroduzi-los na cadeia alimentar ou criar biofertilizantes que visem a devolução de nutrientes ao solo.
O principal objetivo passa pela validação do potencial comercial da reintrodução destes produtos na cadeia alimentar, com vista à disseminação do mesmo internacionalmente em duas vertentes: internacionalização dos produtos agrícolas nacionais e captação de investimento estrangeiro.
Este projeto será um piloto para perdas e resíduos provenientes das cadeias que geram maior impacto desde a produção até ao retalho, tendo-se identificado nas frutas as pomáceas (peras e maçãs), frutos vermelhos, laranja, e nos hortícolas a alface e tomate.
Para materializar o racional deste projeto de alto impacto no sistema alimentar português será necessário um extenso conhecimento e capacidades. Para isso constituiu-se uma parceria que engloba ENESII, Associações, Centros de Competências, produtores, transformadores e utilizadores finais dos produtos. Contudo, cientes do grande potencial deste projeto, a parceria irá contar com a colaboração de entidades incontornáveis a nível nacional, através da criação de um Advisory Board, constituído por stakeholders que permitem fechar a transversalidade do projeto:
Entidades reguladoras
Indústria alimentar – finais utilizadores
Transformadores
Retalhistas – canal de recolha de produtos, de venda de valorizados e disseminadores de boas práticas junto dos consumidores
Multiplicadores: associações e centro de competências que garantem a escalabilidade do projeto em outras áreas atividades e na internacionalização
 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

ENESII
•Universidade Católica Portuguesa (Coordenação)
oO CBQF (Centro Biotecnologia e Química Fina) promove e divulga, económica e socialmente, o conhecimento e a inovação
oContribuirá com I&D&I na valorização das perdas e subprodutos de frutas e hortícolas na cadeia de valor, gerando novos produtos alimentares e biofertilizantes
Associações Setoriais
•Smart Waste Portugal
oDesenvolve uma plataforma que potencia o resíduo como recurso, com associados em toda a cadeia de valor, incentivando a cooperação e a I&D&I
oContribuirá com a comunicação e disseminação dos outputs a outros players da cadeia de valor e tipologia de resíduos/ perdas, nacional e internacionalmente
•Portugal Foods
oReforça a competitividade e internacionalização das empresas agroalimentares, via aumento do seu índice tecnológico e produção, transferência, aplicação e valorização do conhecimento para a inovação
oContribuirá com a disseminação do interesse ambiental e económico dos produtos output, com objetivo de internacionalização e atração de investimento estrangeiro
Centros Competências
•COTHN
oDesenvolve a fileira hortofrutícola nacional, através da investigação aplicada e melhoria de conhecimentos. Integra diversos projetos internacionais de modernização a produção do setor hortofrutícola. 
oNeste projeto irá atuar como formador, facilitador, e disseminador nas PMEs
•CECOLAB
oAnalisa a sustentabilidade e ciclo de vida de produtos e o desenvolvimento de soluções sustentáveis de mercado em ECONOMIA CIRCULAR para cadeias de valor estratégicas nacionais e internacionais
oIrá contribuir na criação e implementação de manuais de classificação de resíduos nas PMEs, na vertente de biofertilizantes e a análise de qualidade.
•Colab4Foods
oLaboratório para a Inovação da Indústria Agroalimentar, que promove a competitividade e sustentabilidade desta
oIrá mapear o ecossistema e contribuir na criação e implementação de manuais de classificação de resíduos nas PMEs, na vertente alimentar, e enquadramento dos produtos face à legislação ambiental, de segurança alimentar aplicável e à estratégia de economia circular em implementação
•Aliados
oMembro da Food Initiative da Ellen MacArthur Foundation e concetualizadora do Transformar.te, projeto premiado nacional e internacionalmente na área de economia circular. Possui uma equipa com elevada experiência em estudos de viabilidade financeira e de mercado de projetos sustentáveis
oContribuirá com análises de mercado, tendências de consumo e estudos de viabilidade económico dos outputs do projeto e experiência de gestão de projetos na área
PMEs sectoriais c/ responsabilidade operacional
Empresas produtoras de hortofrutícolas que atuarão como fornecedores, participantes no processo de I&D, em conjunto com ENESII e Centros de Competências, e utilizadores finais dos outputs do projeto: 
PAM OP 
Frubaça 
Beirabaga
Frutas Tereso
Torriba
Agroaguiar
 
Fará ainda parte da parceria a empresa agroindustrial PipeMasters que irá converter nutrientes presentes em subprodutos orgânicos, utilizando um complexo de enzimas selecionadas - Freetilizer.
 
Advisory Board composto por organizações que garantem o test bed e potencial  replicação do projecto em diferentes áreas de atividades (Retalho, Restauração, Indústria Alimentar e Bebidas) e entidades oficiais que garantam a agilização do processo classificação:
Agência Portuguesa do Ambiente
Direção Geral de Alimentação e Veterinária
Lipor
Sonae MC
Casa Mendes Gonçalves
Sumol+Compal
Vitacress
Trivalor
 
Interlocutor: Vasco Sousa   Email interlocutor: vascosousa@aliados.consulting   Email entidade: hello@aliados.consulting