Bolsa de Iniciativas PRR

 

CANTE: Do Conceito à Abordagem Uma Só Saúde. Perspetivas e experiências iNTEgradas no Alentejo em rede para o Mundo num processo top-down (ID: 6 )
Coordenador: Universidade de Évora
Iniciativa emblemática: 2. Uma Só Saúde
Data de Aprovação: 2022-09-08 Duração da iniciativa: 2025-09-30
NUTS II: Alentejo NUTS III:  
 
Identificação do problema ou oportunidade

Como consequência das ações do ser humano e das suas políticas globais, nos últimos 2 séculos têm-se assistido a uma rápida degradação dos ecossistemas naturais com sérios riscos para a saúde humana e animal.

De entre as pressões que mais têm contribuído para a degradação dos ecossistemas, destacam-se: 1) práticas inapropriadas de uso da terra; 2) utilização excessiva e descontrolada de fertilizantes, pesticidas e antimicrobianos; 3) alterações climáticas. Devido às emissões de CO2, o clima desviou-se significativamente do comportamento natural. A Terra está a aquecer rapidamente (IPCC 2021) com consequências imprevisíveis na disponibilidade de água em várias regiões do globo, nomeadamente na região Mediterrânica. Prevê-se que Portugal (2040 - 2100) venha a ser mais quente e mais seco, o que causará uma fragmentação de habitats, perda de biodiversidade e afetação dos sistemas de produção agrícola e pecuária.

Na Europa as políticas atuais, do Horizonte Europa à agricultura (e.g. Política Agrícola Comum, PAC; Do Prado ao Prato) e ambiente (e.g. Diretiva Quadro da Água; Diretiva Habitats; Estratégia Europeia para a Biodiversidade; Pacto Ecológico Europeu), reforçam a necessidade de uma coordenação entre diferentes áreas, numa abertura à inter/transdisciplinaridade na perspetiva de integração de conhecimento para ações concertadas, patente na Agenda de Inovação para a Agricultura 20|30 e na Agenda 2030 - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), onde se refere a importância do estabelecimento de redes e sinergias entre os objetivos e metas. Por outro lado, é reconhecida a necessidade de soluções inovadoras que considerem a resiliência dos sistemas, na perspetiva, complexa, da conservação e proteção da biodiversidade, do provisionamento de Serviços de Ecossistemas e do crescimento de um sistema agrícola inovador, para a geração futura. Para tal, é necessário assumir uma postura integradora, considerando a relação natureza sociedade através de um sistema sócio-ecológico complexo. Nesta perspetiva conceptual, que integra o paradigma de Uma Só Saúde, a sociedade humana passa a ser considerada como um elemento pertencente ao ecossistema que aproxima a espécie humana às outras espécies, fundamental para uma gestão integrada que inclua a avaliação e a adoção de soluções adaptativas, crucial na transição para uma economia circular de baixo carbono. Apesar desta abordagem ser formalmente aceite pelas Nações Unidas (e.g. OMS, FAO, WOAH, PNUMA, Banco Mundial), ainda existem importantes deficiências operacionais que impedem a implementação do conceito “Uma Só Saúde”. Estas deficiências constituem a oportunidade da presente proposta, organizada em 4 grandes objetivos, alinhados com os objetivos operacionais da iniciativa Emblemática 2:

-1- Implementação de modelos de governança participativa que inclua atores sociais de diferentes pilares: sociedade; território; cadeia de valor; estado; e que potencie a atração de jovens e a participação de mulheres na agricultura;

-2- Adaptação de ferramentas tecnologicamente inovadoras para a transição agroenergética e agroecológica e para reduzir a resistência antimicrobianos;

-3- (bio)Monitorização e criação de um biobanco de amostras que permitam, avaliar remotamente indicadores de saúde humana, animal, fitossanidade e higiene ambiental, e estudar tendências temporais, prever e preparar doenças emergentes;

-4- Promoção de uma transição digital que promova a educação para “Uma Só Saúde”, não deixando ninguém para trás.

 
Breve resumo da iniciativa a desenvolver

A iniciativa que se apresenta está estruturada em 2 casos de estudo (CE):

Produção agrícola – arroz

Na União Europeia, embora a produção de arroz tenha pouco significado (2,5milhões t com importação de ~40%) assume grande importância socioeconómica e ambiental, com destaque para a manutenção da biodiversidade. Portugal representa 6-7% dessa produção, sendo o maior consumidor europeu com uma média de 17kg per capita/ano e grau de autoaprovisionamento de ~60%. Em 2021, a produção de arroz em Portugal foi de 176mil t, com a região Alentejo a destacar-se com 60% desta produção.

Neste contexto, de forma alinhada com os 4 objetivos referidos, pretende-se criar uma rede com parceiros do setor do arroz, para:

- 1- Promover experimentação e avaliação de tecnologias alternativas para adaptação da produção às ameaças emergentes e redução da incidência de doenças: e.g. diminuição do consumo de água; controlo de infestantes; níveis sustentáveis de uso de fitofármacos; desenvolvimento de substâncias ativas para proteção de plantas de base químico-biológica;

-2- Implementar técnicas para monitorização e identificação de infestantes, pragas e doenças; e controlo de metais, pesticidas e micotoxinas no grão;

-3- Promover a utilização de variedades adaptadas às condições edafoclimáticas.

Produção pecuária – porco alentejano

Dos cerca de 2M de suínos existentes em Portugal, o Alentejo possui mais de 40% desse efetivo, com ~30% correspondentes ao porco alentejano, uma raça autóctone explorada em regime extensivo e semi-intensivo que convive com animais silvestres.

Assente em práticas tradicionais, a produção de porco alentejano constitui um património histórico, cultural e social, que poderá ficar ameaçado pelo javali, considerado o maior foco de propagação da peste suína africana a nível europeu. Adicionalmente, os agentes patogénicos transmitidos por carraças têm aumentado e os hospedeiros vertebrados, entre os quais o ser humano, são essenciais para os seus ciclos enzoóticos, assim como para as doenças por elas transmitidas. O papel de carraças e outros vetores deve assim ser considerado, contemplado, também, na promoção do turismo da natureza, como rendimento adicional à agricultura e pecuária.

Neste contexto, pretende-se trabalhar em rede com atores sociais ligados à produção do porco alentejano, de forma alinhada com os 4 objetivos referidos, para:

-1- Adaptar ferramentas tecnologicamente inovadoras para tratamento de efluentes pecuários com recurso a energia solar (e.g. contaminação por fármacos e pesticidas em explorações semi-intensivas);

-2- Desenvolver técnicas para monitorização dos processos de produção do porco alentejano, de animais silvestres e de sistemas de prevenção de vetores, e contribuir de forma integrada para alimentar um sistema de vigilância;

-3- Testar a implementação de práticas inovadoras baseadas no mais recente conhecimento científico, para reduzir o consumo de antimicrobianos.

Transversalmente aos 2 CE, pretende-se:

-1- Transferir boas práticas e conhecimentos inovadores para valorizar a capacidade de decisão e apoio ao agricultor e promover competências na perspetiva de Uma Só Saúde;

-2- Criar um mecanismo de certificações Uma Só Saúde que consolide e contextualize as vantagens da produção sustentável integrada;

-3- Criar um repositório integrado de amostras que potencie o desenvolvimento de aplicações para avaliação remota de indicadores de saúde e a promoção de estudos longitudinais para avaliar a eficácia das medidas implementadas (biobanco).

 
Áreas de Trabalho e responsabilidades de cada parceiro

O Consórcio é constituído por parceiros que integram os 4 pilares definidos no âmbito da Estrutura de Inovação para a Agricultura 20|30: Sociedade; Território; Cadeia de Valor; Estado. É liderado pela UÉvora, que se apresenta com uma equipa multidisciplinar, com membros de 5 Centros de Investigação (ICT; MED; MARE; CHRC; CICS.NOVA.UÉvora) com valências técnicas e cientificas no Ambiente, Saúde Humana e Animal. As parcerias do Consórcio têm por base os 2 casos de estudo (CE), previamente apresentados, para um trabalho integrado através de um modelo de governança participativa que privilegia fóruns de discussão (i.e., Dialogue Living Labs). Pretende-se envolver todos os parceiros em diálogo transversal, para coletivamente construir uma agenda para execução do Plano de Ações e disseminação dos resultados, que se pretende participativa, mobilizando os atores da região Alentejo, não deixando ninguém para trás.

Neste Contexto as atividades de investigação e desenvolvimento enquadram-se nas seguintes linhas de trabalho (aviso Nº13/C05-i03/2021) direcionadas para os 2 CE:

LA2.1 Consórcio de Inteligência Epidemiológica;

LA2.2 Metodologias de vigilância;

LA2.3 Desenho e implementação de intervenções de reforço do uso responsável de antimicrobianos em agropecuária;

LA2.4 Integração de sistemas.

LA2.5 Avaliação de indicadores.A UÉvora através da sua equipa multidisciplinar integrará as 5 linhas de trabalho na abordagem aos 2 CE. O Investigador Responsável (IR), conjuntamente com o Conselho Científico e estrutura de gestão do projeto, zelará para uma participação responsável e equilibrada de todos os membros do consórcio, que potencie de forma equitativa a integração de jovens e mulheres dos diferentes setores de atividade.

Serão ainda estabelecidas parcerias com entidades internacionais fora do território nacional, com reconhecido mérito e credibilidade na área da “Uma Só Saúde” e na biomonitorização: One Health Frontier Program, Hokkaido University; JECS Study and Time Capsule Program, National Institute for Environmental Studies, Japão; ES-Bank, Ehime University, Japão.

Parceiros e responsabilidades sumárias, no âmbito específico dos 2 CE:

-1- Agentes de Políticas Públicas (Pilar Estado), participação em LA2.4. Responsabilidade: Estabelecimento de necessidades e participação na definição de cenários de riscos e respostas.

Direção Regional de Agricultura;

Agência Portuguesa do Ambiente, APA;

Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge;

Administração Regional de Saúde do Alentejo;

-2- Produtores (Pilar cadeia de Valor), participação em LA2.2 e em LA2.3. Responsabilidade: Definição de boas práticas, implementação de conceitos, aplicação de procedimentos de vigilância e monitorização.

Associação Nacional de Criadores de Porco Alentejano, ANCPA;

Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado Lda, APARROZ;

Herdade do Freixo do Meio;

Pão da São;

Ferreira Pinto Barreiros Lda;

-3- Agentes do Território (Pilar Território), participação em LA2.1 e em LA2.5. Responsabilidade: Operacionalização da Inteligência Epidemiológica (monitorização) para resposta aos cenários de riscos e ameaças (re)emergentes:

Centro de Competências do Arroz, COTARROZ;

Centro de competências em Plantas aromáticas, medicinais e condimentares;

Câmara Municipal de Évora;

-4- Cidadãos (Pilar Sociedade), participação em LA2.1. Responsabilidade: Incorporação de conceito “Uma Só Saúde” para uma alimentação saudável e bem-estar:

Natura M3; Faz & Erra Unipessoal, Lda;

 
Interlocutor: Maria Manuela Queiroz Martins Mantero Morais   Email interlocutor: mmorais@uevora.pt   Email entidade: investigar@scc.uevora.pt